Ministra ignora decisão da comissão que avalia projetos e autoriza três estilistas a captarem R$ 7,4 milhões para desfiles em São Paulo, Paris e Nova York
Em condições normais eu deveria ficar surpreso com a notícia acima, veiculada hoje em O GLOBO. Não o faço por três motivos básicos:
1. Envolve o Ministério da Cultura: Desde sempre, este é um tema que não é levado a sério no país. Pior ainda, vale-se de incentivos fiscais - que é dinheiro! - para patrocinar eventos sem nenhuma relevância neste contexto, tais como musicais da Broadway, shows de artistas consagrados e filmes da Xuxa. Nada contra os dois primeiros, mas há outras prioridades.
2. Envolve o PT: O Partido dos Trambiques abandonou de vez o bom senso, a vergonha, o escrúpulo. Já nem tenta mais disfarçar. Provavelmente porque descobriu que não precisa disfarçar. O povo se contenta em quebrar umas vidraças de vez em quando e acha que fez uma revolução.
3. Envolve a Marta Suplicy: Desde o episódio do "relaxa e goza", no qual esta senhora demonstrou uma irreconciliável distância entre o mundo em que vive e a realidade brasileira, sua figura deveria ter sido banida da vida pública, relegando-a tão somente à privada*. Para o Partido das Tramóias, no entanto, defeitos deste tipo são vistos como virtudes.
Sobre o fato, em si, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (vinculada ao MinC) já havia negado o pedido de verba. Sete conselheiros votaram contra e sete se abstiveram. Nenhum votou a favor mas, mesmo assim, Marta passou por cima desta decisão, desautorizou sua área técnica e empurrou o projeto goela abaixo.
Como destacou a Folha de São Paulo, em reportagem sobre a sandice, o público de um desfile deste porte é de cerca de 300 pessoas. Dividindo o valor de cada projeto, dá cerca de R$ 4.700,00 por pessoa, para assistir a um desfile de modas.
- Relaxem e gozem, meus amores!
Pedro Lourenço, por exemplo, agraciado com R$ 2,8 milhões de Reais, faz uma coleção inspirada em Carmen Miranda. Um dos argumentos de Marta sustenta-se na divulgação da imagem do Brasil no exterior.
Carmen Miranda, sabemos, era PORTUGUESA! E com todo o respeito à Pequena Notável, não consigo enxergar como uma moça de maiô carregando uma feira na cabeça pode melhorar nossa imagem. Antes, vai apenas reforçar o estereótipo malandro-tropical-sexual.
Se moda é ou não é cultura, não me cabe discutir. Mas certamente não deveria ser uma prioridade do Governo. Se, mesmo assim, o objetivo for desenvolver o setor aqui no Brasil, o incentivo precisaria focar em quem não tem este tipo de oportunidade - como costureiras e estilistas de comunidades carentes - e não em nomes já consagrados.
O mesmo vale para espetáculos do Cirque du Soleil e peças do Miguel Falabella. Com ingressos a meio salário mínimo, de quê forma um incentivo do Governo está fomentando a cultura?
Mais uma vez, a velha prática de lotear cargos públicos para atender interesses políticos coloca gente incompetente para decidir assuntos importantes. E como Marta já não consegue mais se eleger nem síndica do prédio, o PT vive procurando uma forma de dar-lhe sua mesada. O que prova, mais uma vez, que este Governo não liga a mínima para a Cultura.
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* Não esqueçamos, também, da sua campanha pela Prefeitura de São Paulo em 2008, baseada em alegações sobre a duvidosa sexualidade de seu oponente.
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