Diversas pessoas que acompanham aqui meus escritos já me perguntaram por que me dirijo a vocês como leitoras - sempre no feminino. Em vez de explicações privadas e justificativas particulares, aqui vai um esclarecimento público que deve desfazer o mistério.
Confesso que esse hábito é um plágio fantasiado de homenagem a um crítico gastronômico que escreveu no Jornal do Brasil entre 1970 e 2002, o Apicius. Roberto Marinho de Azevedo era o nome completo por trás da alcunha.
O curioso pseudônimo teve origem no gourmet e bon-vivant romano Marcus Gavius Apicius que viveu no século I d.C. e teria escrito a primeira coleção de receitas culinárias italianas de que se tem notícia, compiladas trezentos anos depois num volume chamado... Apicius.
O termo tornou-se, então, sinônimo de compêndio de receitas e dá nome a diversos cursos e escolas gastronômicas no mundo todo.
Voltando ao cronista, Robertinho (como era conhecido pelos amigos mais próximos) escrevia belíssimos textos com um estilo inigualável. Suas críticas eram sempre muito elegantes, com um finíssimo senso de humor e uma bem dosada pitada de acidez.
Uma temperada combinação de perfeitos ingredientes que pode ser saboreada nesse petisco oferecido pelo blog de Luciana Fróes, lembrando a introdução de um guia gastronômico escrito por Apicius em 1992:
"Nunca se sabe o que pode acontecer com um guia. Depende do leitor. E, em se tratando de restaurantes, depende deles também. E de Deus, como tudo.
Assim, digo com autoridade: Excelente este lugar! E um deus, que entende de cozinha (ou que não gosta de mim) mata o maitre, o chef ou dá dor de barriga a 3 garçons. E eis o meu bom conselho transformado em grandíssima asnice.
Isso acontece todos os dias.
Por isso, é com humildade que só os anos e os tropeços ensinam, que te apresento este guia. É um amontoado de palpites, de lembranças e de preferências, como, no fundo, qualquer guia. Não conta tudo."
Seus textos não descreviam quimicamente os pratos como insistem alguns críticos muito críticos, cujos relatos mais se assemelham a autópsias daquilo que acabaram de ingerir. Apicius contava os detalhes do programa de domingo, onde a refeição era quase secundária. Não era incomum ele dizer que o pato que comera era correto e acompanhava-o um vinho honesto. Ponto.
Inesperadas combinações de adjetivos davam o erudito toque de originalidade que muito me divertia e hoje me despertam uma ponta de inveja de suas inspiradas criações. Apicius dirigia-se diretamente a seu público feminino, exclusivamente. Claro que eu e muitos outros não fazíamos parte dele - assim como alguns de vocês prezados leitores - mas nutríamos a mesma admiração por seus escritos.
Na breve pesquisa que realizei sobre o cronista, achei uma excelente entrevista na qual ele dá dicas de como escolher um bom restaurante. Descobri, ainda, que Apicius era também o autor dos desenhos que ilustravam seus textos. E que ele faleceu em 7 de março de 2006.
HUUUMMM...
Agora sim!
Eu nunca perguntei, pois achava que iria ser uma questão estúpida!
Mas, estúpida, é a questão não feita!
Abs,
Eder
Posted by: Eder Rabelo | 04/06/2009 at 14:05