Frequentemente cito aqui no blog algum tipo de Experimento em Psicologia - uma pesquisa realizada com voluntários dentro de um ambiente específico com o objetivo de mensurar e analisar determinados comportamentos - como embasamento ou referência mais sólida para desenvolver uma ideia ou argumento. Provavelmente a origem desse hábito tenha sido Influence: The Psychology of Persuasion* que li em 2003. Robert Cialdini, Ph.D em psicologia pela Universidade do Arizona, reuniu nessa obra diversos desses estudos que fornecem valiosas pistas sobre os motivos pelos quais exercemos e sofremos influências em nossas interações junto à sociedade.
Recentemente encontrei um livro que descreve os mais notáveis Experimentos em Psicologia do século XX. Em Opening Skinner's Box: Great Psychological Experiments of the Twentieth Century
(W. W. Norton & Co., 2004), a premiada psicóloga americana Lauren Slater seleciona os dez estudos mais importantes nessa área e elabora uma instigante narrativa a respeito de cada um deles.
Partindo de sua seleção particular de temas, Slater extrapola as bases puramente acadêmicas dos experimentos e oferece, numa narrativa bem acessível ao público leigo (como eu), detalhes sobre a vida pessoal dos pesquisadores, os contextos dentro dos quais os estudos foram realizados e até mesmo depoimentos de quem participou deles.
Ainda que a autora não revele seus critérios de seleção para escolher os Experimentos em Psicologia relatados, senti falta de alguns célebres casos com os quais já tive a felicidade de me deparar e a oportunidade de citar. Ficaram de fora, por exemplo, os estudos de Phil Zimbardo sobre a origem da maldade humana, os voluntários conformistas de Solomon Asch e os famosos cãezinhos condicionados de Ivan Pavlov.
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Tais experimentos tentam reproduzir em laboratório - ou noutro ambiente igualmente limitado - as mesmas condições sociais com as quais convivemos em nosso dia-a-dia, de forma a observar nossas reações e decisões de acordo com a situação apresentada. Como há inúmeros fatores que podem alterar nosso comportamento, os estudiosos procuram isolá-los ao máximo, para que somente o objeto da pesquisa exerça algum tipo de influência no contexto.
Boa parte da minha admiração por esse tipo de estudo vem, exatamente, da forma engenhosa como são idealizados de modo a permitir, assim, esta redução de variáveis e focar a observação num único ponto. São soluções originais e enredos extremamente criativos que proporcionaram avanços incríveis na forma como hoje interpretamos o comportamento humano.
Resolvi iniciar, então, uma série de textos a respeito daqueles que considero os Experimentos em Psicologia mais interessantes, usando o livro de Lauren Slater como base e recorrendo a outras fontes complementares.
Como é bem provável que esta seja uma longa série, criei uma categoria específica (Experimentos em Psicologia) onde a leitora poderá encontrá-los de forma ordenada, além de criar neste post uma lista com todos os textos, conforme eles forem sendo publicados.
Espero conseguir transmitir todo o meu entusiasmo e admiração por essas pequenas revoluções da ciência, nessa ainda breve viagem pelos misteriosos caminhos da mente humana. Veremos de que forma conseguimos avançar em passos tímidos e, muitas vezes, vacilantes.
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* Disponível no Brasil pela Editora Campus com o título "O poder da persuasão"
TEXTOS DESTA SÉRIE:
.: Pavlov e seus cãezinhos condicionados :.
"(...) comumente chamamos de Reflexo Condicionado: a história do cão que, acostumado a ouvir uma sineta tocar antes das suas refeições, passou a salivar toda vez que ouvia o tal som, independente de sua ração ser servida ou não. Mas poucos conhecíamos a história (...)."
"Com a ajuda dos ratinhos Skinner explicou porque perdemos fortunas em máquinas caça-níqueis e porque a leitora se apaixona pelo namorado que liga de vez em quando. Ou, usando o jargão habitual, como os reforços/recompensas intermitentes transformam-se em compulsão."
.: A unanimidade burra de Solomon Asch :.
"O estudo de conformidade de Solomon Asch dá indícios sobre o poder de influência que os grupos exercem sobre os indivíduos. Mostra que o simples desejo de pertencer a um ambiente homogêneo faz com que as pessoas abram mão de suas opiniões, convicções e individualidades."
.: Stanley Milgram e o choque de autoridade :.
"(...) Stanley Milgram estarreceu o mundo com um experimento que revelava o assustador comportamento que transforma pessoas comuns em malvados algozes, capazes de atrocidades inimagináveis. Demonstrou que cidadãos comuns, como eu e você, podiam cruzar os tênues limites da maldade."
.: Latané, Darley e a paralisia coletiva :.
"A presença de várias pessoas parece diluir nosso sentimento de obrigação para com o próximo (...) no que eles batizaram de Difusão de Responsabilidade. Latané e Darley perceberam, nesse momento, que Kitty Genovese não morreu apesar de haver muitas testemunhas, mas exatamente porque havia muitas testemunhas. Fosse apenas uma, provavelmente ela teria lhe ajudado."
.: Festinger e a dissonância cognitiva :.
"Basicamente, a Dissonância Cognitiva é um estado de tensão que ocorre quando uma pessoa tem duas cognições (ideias, atitudes, crenças, opiniões) que são psicologicamente inconsistentes. É a velha moral dupla que nos permite tomar uma atitude enquanto pregamos outra."
.: Elizabeth Loftus e o homem que não estava lá :.
"Ela buscava desesperadamente de uma prova definitiva e irrefutável da tese que defendia, sobre a fraca natureza da memória enquanto evidência ou até mesmo prova de um crime. E se essas memórias não eram reais, de onde viriam?"
.: Rosenhan e o lado de fora do hospício :.
"Nos cinco dias anteriores ao início do experimento, nenhum deles deveria tomar banho, fazer a barba ou escovar os dentes. (...) no dia combinado, todos se apresentaram ao setor de emergência de um determinado hospital com exatamente a mesma queixa: Estou ouvindo vozes há três semanas. Elas dizem "tum!"."
.: Phil Zimbardo e o efeito Lúcifer :.
"Para Zimbardo, a linha que todos nós gostamos de traçar entre nós, pessoas boas, e eles, pessoas más, não era assim tão rígida e impermeável como gostamos de pensar. À estranha e onipresente força que eventualmente nos faz cruzar essa tênue fronteira, ele chamou de Efeito Lúcifer."
.: Phil Zimbardo e a imaginação heroica :.
"(...) algumas situações têm o poder de fazer três coisas: inspirar a maldade em uns; atos heroicos em outros; ou ainda, a indiferença. Para Zimbardo nós precisamos instilar na população o sentimento de que podemos fazer a diferença em ocasiões especiais. Ele acredita que o heroísmo é o melhor antídoto para a maldade"
.: Bruce Alexander e o mito do vício :.
"(...) talvez mais do que desequilíbrios químicos, a necessidade incontrolável por determinadas substâncias poderia estar relacionada, por exemplo, ao trabalho, a um lar opressor, a uma infância sem afeto, à sorte ou até mesmo ao mau tempo - ou seja, fatores situacionais em vez de biológicos."
.: George Miller e o mágico número sete :.
"Essas evidências parecem sugerir que temos, portanto, uma capacidade limitada de fazer julgamentos e memorizar informações - seja por nossos processos de aprendizado ou pela organização de nosso cérebro."
.: John Cade e a solução solúvel :.
"Além de não ter os efeitos tóxicos da ureia, o urato de lítio provocava reações inesperadas em suas cobaias: os sempre agitados porquinhos da índia permaneciam calmos, impassíveis e completamente relaxados ao serem injetados com a mistura."
Você poderia trazer mais experiências em psicologia para nós, li tudo nesta seção e gostaria de me informar mais sobre esse assunto.
Obrigado.
Posted by: Tiago | 26/08/2012 at 22:58
Antes da ascenção do atual presidente era comum a presença de meninas de 10/ 11 anos nas calçadas das praias vendendo seu corpo e até seus próprios familiares aceitavam como fato consumado e comum, embora trágico.Víamos famílias tirando seu sustento do lixo dos restaurantes onde tinhamos jantado lautamente e assumiamos como fato consumado e nos considerávamos "normais", talvez vc. inclusive. Nossos antepassados se casavam com meninas de 10/11/12 anos e nunca ninguém se referiu ao seus antepassados como pedófilos por este costume. As índias no Xingu tem alto índice de mortalidade no primeiro parto pelo seu costume ou cultura de casarem-se logo após a primeira menstruação, ou menarca.Nem por isto os antropólogos chamam os índios de pedófilos.Na Grécia antiga, que muitos intelectuais citam como modelo de democracia, a homossexualidade era mal vista entre adultos a não ser entre adultos e adolescentes, o que era oficialmente permitido. Não nego que trouxe muitos benefícios para muitas de nossas crianças embora um certo exagero na determinação da idade mínima para iníciação sexual.
Os mesmos que combatem a pedofilia oficialmente distribuem camisinhas e pílulas do dia seguinte à crianças a partir de dez anos de idade.
Para não passar a imagem de país subdesenvolvido e desviar a atenção do verdadeiro motivo e principal bandeira eleitoral:o combate à corrupção que desvia as verbas essenciais para outros fins criou-se uma caçada pirotécnica em todo país aos pedófilos.
Não nego que houve muitos benefícios às crianças e sou a favor embora haja excessos. Acredito que muitas das confissões de abusos que não se perpetraram em atos finais, ou penetração com prova física possam ser indução de falsas memórias do tipo ESCOLA DE BASE.
Quem já lidou com crianças sabe que, principalmente em idades mais tenras é muito fácil fazer uma criança dizer isto ou aquilo na base do binômio premio/punição.
Não nego que haja monstros em pele de lobos mas, o conhecimento pode nos alertar melhor para não colocarmos nos horrores do ostracismo e da prisão cordeiros pintados de lobo.
Embora não senja homofilico tb não sou homofóbico. Afirmações de cunho pseudocientíficos como existem X vezes mais criminosos entre os filhos de criminosos adotados do que entre os filhos de não criminosos pode desviar do foco que conhecimento das histórias de seus genitores pode ter influenciado a conduta das famílias que os adotaram gerando preconceitos. ASSIM TB, PRECONCEITOS HOMOFÓBICOS AO DIZER QUE 20 X MAIS HOMOSSEXUAIS...
o QUE TB. CRITICO É O REDUCIONISMO DE SE TIRAR CONCLUSÕES SEM CONHECER. SÓ POSSO CRITICAR UM LIVRO APÓS LÊ-LO.
Posted by: JULIO SPÍNOLA- fiscal de tributos | 17/02/2010 at 20:14
Dentro da linha de reflexologia de pavlov, veja A LUTA PELA MENTE DE W. SARGANT:
INTRODUÇÃO
Políticos, sacerdotes e psiquiatras muitas vezes enfrentam o mesmo problema: como encontrar o meio mais rápido e permanente de mudar as convicções de um homem. Quando, ao aproximar-se o fim da Segunda Guerra Mundial, me interessou pela primeira vez a semelhança dos métodos que, periodicamente, têm sido usados pela Política, Religião e Psiquiatria, deixei de perceber a enorme importância que o problema tem agora por causa de um conflito ideológico que parece destinado a decidir dos rumos da civilização em séculos futuros. O problema do médico e de seu paciente com doença nervosa e do líder religioso que se dispõe a conquistar e conservar novos neófitos tornou-se agora o problema de grupos inteiros de nações que desejam não apenas preservar certas crenças políticas dentro de suas fronteiras, mas fazer prosélitos fora delas. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos vêem-se, portanto, obrigados pelo menos a estudar seriamente as formas especializadas de pesquisa neurofisiológica que têm sido cultivadas com tanta intensidade pelos russos desde a Revolução e têm ajudado a aperfeiçoar os métodos agora popularmente chamados de “ lavagem cerebral” ou “controle do pensamento”....
Este livro é uma abordagem pavloviana dos fenômemos da conversão tanto política quanto religiosa. Está disponível em E-Book em diversos sites e procura explicar através de meios não-freudianos quais o fenômnos psico-fisiológicos presentes na conversão política, religiosa e mesmo as confissões induzidas nas delegacias em pessoas despreparadas que passam a acreditar que cometeram crimes que não são de sua autoria. Explica o processo emocional que precede a mudança radical de avaliação da realidade chamada conversão, inclusive com uso de vibrações(mantras p ex) jejum ou certos alimentos que acelerariam o processo.
Posted by: JULIO SPÍNOLA- fiscal de tributos | 17/02/2010 at 18:18
Realmente, conseguisse reunir, organizar e apresentar muito bem alguns dos mais interessantes experimentos em psicologia. Gostaria de fazer uma sugestão para um futuro acréscimo, que foi um estudo realizado com estudantes universitários para examinar uma "teoria da mente"; podes encontrar uma tradução aqui: http://psicologiarg.blogspot.com/2008/05/recortes-histria-humana-uma-nova.html
ou, no original, aqui: http://www.uboeschenstein.ch/texte/dunbar43.html
No meu blog apenas traduzi o texto, sem me preocupar em fazer nenhum tipo de apresentação pois este não era o meu objetivo, mas o modo como foram formatados os experimentos aqui contribui muito para a divulgação de alguns dos episódios marcantes da história da psicologia.
Posted by: Human | 04/08/2009 at 02:24
Grande Rodolfo.
Ainda bem que existem as chamadas "pseudo-ciências", como a série que tô começando a ler agora.
O mundo seria extremamente sem graça se tivessemos explicações pra tudo...
Com essa série é só mandar encadernar. O livro já está pronto!
Parabéns!!!
Posted by: Eder Rabelo | 29/07/2009 at 19:27
Rodolfo,
Em Brasília foi implantada a política de trânsito de respeito a faixa de pedestres. Funcionou e funciona. Como foi feito? Em primeiro lugar, uma campanha do lançamento da campanha. E depois, nas duas primeiras semanas, presença de um policial em cada faixa de pedestre da cidade. Não houve multa num primeiro instante. Depois, a população absorveu a cultura de parar na faixa.
César
Posted by: César | 01/07/2009 at 21:53
Rodolfo, cada vez mais tenho a sensação que estamos constantemente dentro de uma "caixa de Skinner". Aonde cada comportamento tem uma consequencia, seja ela um reforço positivo ou negativo, podemos perceber isso claramente nas nossas relações, na forma como nossos conjuges,filhos ou amigos respondem aos nossos estímulos, ou nós aos estímulos daqueles. Mas como psicóloga, vejo em tudo isso a beleza da vida, o mistério do próximo minuto e a graça das nossas relações. Quer sejamos céticos ou não, acredito que o que nos move a convivermos em sociedade é o comportamento humano, por mais que pensemos que já conhecemos quem está mais perto de nós.
Posted by: Kárdia Lacerda Cysne | 30/06/2009 at 14:55
Caro Júlio, obrigado por sua visita e seu comentário.
Confesso que também pensava assim e posso te assegurar que meu grau de ceticismo está acima da maioria.
Claro que os resultados desses experimentos não devem ser levados ao pé da letra. Mas na verdade nem as Ciências ditas Exatas podem - do contrário prédios não desabariam, pontes não ruiríam nem seríamos pegos de surpresa por furacões ou terremotos.
Talvez as Ciências Sociais tenham um nível maior de incerteza, mas as incertezas estão por toda parte, muito bem disfarçadas, como exemplifica Nassim Taleb com seus Cisnes Negros.
O reducionismo é necessário para que possamos isolar o objeto do nosso estudo e entender a realidade por partes. Os modelos sugeridos estão longe do ideal - como qualquer modelo, em qualquer área do conhecimento. Do contrário, não valeria a pena aprendermos Física e Química no colégio, onde ignoramos o atrito, relevamos a resistência do ar e fazemos cálculos acreditanto em condições normais de temperatura e pressão (normais onde e para quem?).
A proposta dessa série de textos é exatamente mostrar como surgiram algumas das teorias de Psicologia mais importantes. São pesquisas com alto rigor científico e questões particularmente intrigantes em experimentos surpreendentes desenhados de forma extremamente criativa. Muitos deles revelaram, inclusive, hipóteses que todos nós temos hoje como verdades absolutas.
Sem nos darmos conta, eu, você e demais leitores aplicamos as idéias de Pavlov e o Reflexo Condicionado, valemo-nos das Teorias de Aprendizado de Skinner e somos pegos em contradição de acordo com os princípios da Dissonância Cognitiva de Festinger.
Tenho fé que no decorrer dessa série muitos dos que a acompanharem passarão a enxergar a Psicologia com outros olhos - assim como ocorreu comigo, um cético que racionaliza quase tudo o que vê.
Grande abraço,
Rodolfo.
Posted by: Rodolfo Araújo | 11/06/2009 at 21:08
Bem, dizem que a psicologia é uma pseudo-ciência.
Eu acredito.
Acho impossível fazer reducionismos e reproduzir experimentos e resultados estatísticos em laboratório, quando o objeto de estudo é o comportamento humano...
Acredito porém em estatísticas criminais e que podemos tirar algumas conclusões a partir delas.
(por exemplo a chance de um pedófilo ser homossexual é 20 vezes maior do que um heterossexual)
estou ficando cético demais ao estilo de Taleb.
Posted by: Julio Lins | 11/06/2009 at 20:42