Snatch (2000) é um filme de ação mas, antes de mais nada, é engraçadíssimo! Escrito e dirigido por Guy Ritchie – o ex da Madonna – tem o cinismo cômico de Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, além de vários atores em comum.
Tudo gira em torno de um enorme diamante (que entre o início e o final do filme varia entre 84 e 86 quilates, numa pequena falha de continuidade) roubado de um grupo de negociantes judeus por um ladrão de quatro dedos (isso parece comum, não?), vivido por Benício del Toro.
Enviado a Londres para negociar a pedra, Frankie Four Fingers cai numa armadilha que dá início a uma improvável trama de golpes e falcatruas. Chefiando os ladrões de jóias, primo Avi é a grosseria em pessoa. Encarnado por Dennis Farina, sua impaciente explicação de Londres é um perfeito roteiro turístico: “Yes, London! You know, fish, chips, cup of tea, bad food, worse wheather, Mary-fuckin’-Poppins. London!”
Um dos comparsas de Frankie arma-lhe uma cilada para que Boris, the blade roube-lhe o diamante. Só que os assaltantes trapalhões contratados para o serviço fazem tudo errado (as cenas do roubo são, de fato, inspiradas nos programas de TV que mostram crimes reais gravados por sistemas internos de vigilância e que dão errado) e passam a ter o sádico Brick Top (Alan Ford) em seu encalço.
No fim da cadeia alimentar estão Turkish e seu fiel escudeiro Tommy, respectivamente o agora famoso Jason Statham e o ainda desconhecido Stephen Graham. A dupla agencia um fracassado lutador de boxe que acaba levando uma inesperada surra do cigano casca-grossa Mickey, numa cômica interpretação de Brad Pitt. Ele é o líder de seu povo, cujo talento é negociar o que quer que seja, desde que a outra parte saia lesada e carregando um cachorro.
Esse incidente também coloca-os no caminho de Brick Top, o carniceiro empresário das lutas clandestinas, que gosta de alimentar seus porcos com seus inimigos (há no filme, inclusive, uma didática explicação sobre o apetite dos suínos e detalhes salivantes de suas preferências gastronômicas).
Com seu lutador fora de combate, o substituto da vez passa a ser o próprio cigano. Mas para desespero de todos, ele espanca seus adversários nas lutas que deveria perder.
Com o sumiço de Frankie, entra em cena Bullet-tooth Tonny (Vinnie Jones, que assim como em Jogos, trapaças aparece aqui praticando seu esporte favorito: esmagar cabeças com a porta do carro), o sinistro capanga de Dough, the head, cupincha de Avi, procurando o mesmo diamante. No seu encontro com os assaltantes trapalhões acontece um diálogo surreal sobre ímpetos penianos e testiculares e calibres de armas.
Aliás, na derradeira cena em que Tonny encontra os bandidos que estão com o diamante, não é Vinnie Jones, mas um sósia, porque Jones havia sido preso na noite anterior a essa filmagem, por envolver-se numa briga.
Ritchie tem agora todos procurando o diamante e Brick Top procurando todos. Ele imprime, assim, um ritmo alucinante ao filme, com diálogos afiadíssimos, ainda que num inglês praticamente incompreensível. O sotaque cigano de Brad Pitt representa, aliás, a vingança do diretor contra os críticos que reclamaram que Jogos, Trapaças... era falado numa língua indecifrável. Ritchie colocou, dessa vez, alguém que nem os outros personagens entendiam.
Suas originais tomadas de câmera compõem um elemento extra em suas obras. São ângulos inesperados misturados com velocidades intercalando o slow motion e avanços rápidos. A edição também conta com recursos ágeis, emendando algumas cenas em ritmo de vídeoclipe.
E assim como em Jogos, Trapaças... Ritchie consegue criar uma trama envolvente, onde todos os personagens acabam se encontrando de alguma forma. Os finais são sempre inusitados e tudo parece resolver-se em benefício de quem agia de boa-fé.
Por falar em final, foi depois de terminar Snatch que Ritchie casou-se com Madonna e, a partir daí, não fez mais nada que prestasse. Como esse matrimônio também chegou ao final, vamos ver se essa má fase também acabou e ele volta com outro filme desse quilate.
Obrigado pelos comentários!
Jogos, Trapaças... tem as dores e as delícias de ter sido o primeiro "sucesso" e desabrochado nomes como Jason Statham e Vinnie Jones.
Mas considero Snatch bem mais completo, com personagens fortíssimos apoiados por reforços de peso, como Brad Pitt, Benício del Toro e Dennis Farina. Os diálogos são muito afiados, com situações esdrúxulas. Além disso é um filme muito ágil - veja quanta coisa acontece em 104 minutos!
Uma coisa interessante que eu percebi repassando esses dois filmes na minha cabeça é que em ambos são os personagens mais ingênuos que se dão bem, ante à possibilidade de catástrofe em que se metem no desenrolar de seus enredos. Já os bandidões casca-grossa, bem, esses se ferram mesmo...
Com relação ao Rocknrolla, espero mesmo que seja bom, pois o que vi em Revolver é absolutamente deprimente... Espero que Ritchie se reencontre nessa fase pós-Madonna.
Abraço, Rodolfo.
Posted by: Rodolfo Araújo | 13/01/2009 at 16:59
Pelo que li, o Rocknrolla é do mesmo naipe destes dois citados. Ainda não vi.
Engraçado que sempre gostei mais de Jogos, Trapaças, mas depois do seu texto, não sei!!!
Preciso vê-los novamente.
Abração!!!
Posted by: Eder Rabelo | 13/01/2009 at 16:17
E "Rocknrolla", vc viu? Como "Snatch" e "Lock, Stock and two Smoking Barrels" são simplesmente imperdíveis, eu estava na esperança de ser mais um da série must watch, mas ainda não assisti...
Abs e ótimo 2009 ;)
Posted by: suzana | 13/01/2009 at 11:35